Depois de abandonar a publicidade para se dedicar a tapeçaria, Alex se tornou um dos nomes mais relevantes do segmento. A decisão fez parte de um processo individual, que em suas próprias palavras aconteceu depois de entender "a necessidade por uma melhor qualidade de vida, ligada à solitude, ao fazer manual e à contemplação."
Em nossa última conversa, Alex Rocca (@__alexrocca) compartilhou seus rituais para uma pausa criativa, e atividades preferidas para manter a inspiração em dia.
Quais são as suas inspirações e referências?
Eu passei 4 anos em uma faculdade de cinema e 10 anos atuando na área, assistindo filmes, estudando escolas, cineastas e afins, então é evidente que isso acaba refletindo no meu trabalho. De dois anos para cá, passei a fazer parte de um grupo de artistas que instigou minha mente a também entrar em outro lugar, e me ajudou a me enxergar como designer e artista. Nesse processo, fui entendendo que meu trabalho ia além do design.
Além disso, sou preto. Não passei por dificuldades financeiras, mas tenho esse lugar de ser um artista preto no Brasil, e minhas obras sempre falaram de território e pertencimento. Essa é uma poética minha muito forte. Agora, cada vez mais eu estudo questões que se conectam com a minha história e ancestralidade, como repetições de fractais e arquitetura africana.
Eu sou uma pessoa que gosta de solitude, no sentido de trabalhar sozinho, de fazer, de contemplar, de olhar.
Quanto tempo você dedica a isso? Existe uma rotina?
Sim, eu crio uma rotina. Acordo cedo, então as duas primeiras horas do meu dia são dedicadas às tarefas online, como e-mail. Como também fico bastante tempo em pé, aproveito para me exercitar duas vezes por dia. Prefiro estudar logo quando volto do da atividade física, normalmente dedico cerca de duas horas por dia lendo e coletando referências. Realmente trabalho pelo menos oito horas por dia, isso é de praxe.
Quais são seus rituais preferidos em uma pausa criativa? Quando você para pra se inspirar, tem algo que você goste de fazer?
Gosto de jogar baralho, de cozinhar, de assistir séries. Vejo tudo como um processo, então essas atividades também acabam contribuindo para o desenvolvimento do meu trabalho.
Qual a sua visão de futuro, o que a gente pode esperar de você nos próximos anos?
Quero olhar meu trabalho cada vez mais como arte, algo único. Eu posso industrializar um desenho, mas esse não é meu trabalho principal — quero experimentar cada vez mais.
Sei que temos essa expectativa de sempre estar fazendo algo, mas também aprecio o tempo das sementes germinarem. Assim, também evito o desgaste de que as pessoas estejam vendo muito meu trabalho. Por isso fico feliz em poder colocar as obras em outros suportes: ladrilhos, roupas, etc. Acredito que isso dá um respiro necessário.
Como encontrar um espaço único no mercado?
Acho importante falar que as coisas tem que ser. Gosto de falar sobre isso, especialmente sobre a tapeçaria. Muita gente está fazendo, mas ao mesmo tempo também sinto que precisamos ter essa calma, porque muitas pessoas me procuram e falam "ah, eu quero fazer tapeçaria, onde compra?", mas a pessoa talvez não queira fazer de fato. Ela viu aquilo, achou legal, e quer fazer por que é legal.
Penso que a gente tem que buscar a nossa verdade acima de tudo. O meu trabalho, por exemplo, tem resultado e funciona porque eu coloco uma verdade nele. Eu não peguei o sonho de outra pessoa e projetei aqui, é o meu sonho acontecendo. Isso é importante, é difícil mas acho que a gente tem que ir atrás do nosso lugar, ainda mais na área do design e da arte que é muito fácil copiar.
Tudo flui melhor quando você encontra o seu lugar e você não olha pro lado. O que eu faço hoje, tenho referências e as pessoas que eu gosto, mas eu não fico olhando artistas, porque isso cria uma ansiedade. É um processo em que a gente acaba olhando determinadas coisas e reproduzindo inconscientemente.
✱
Fotografias por Brenda Pontes © Todos os direitos reservados.
Para conhecer mais, acesse www.alexroccadesign.com
Comments